#2 ~ Nada. + 0 comment(s)
Sinto nada. Nada que me consuma por dentro, nada que me faça sair desta pequena concha humana e enfrentar o mundo lá fora, de uma vez por todas. O oxigénio em meu redor torna-se escasso quando os meus próprios pensamentos me sufocam, quando as lágrimas me afundam em sonhos perdidos. Mas são apenas lágrimas de crocodilo, escorridas e usadas. Ninguém precisa de acreditar nelas, pois são meras idiotices de uma pessoa sem qualquer sentido de vida, ou qualquer experiência de terror ou perda. O quanto se enganam a meu respeito, o quanto erram ao julgar-me. Não sabem o quanto eu queria agarrar naqueles enormes e pesados pedregulhos que me prendem ao passado, e atirá-los contra o espelho. Não sou eu, sou aquela que querem ver. Aquela idiota que faz de tudo para agradar, para parecer uma simples criança inocente, feliz e sem qualquer preocupação com a sua forma de viver. Sim, quando vos é benéfico, eu estarei lá, até para além disso. E depois? Depois eu serei posta de parte, novamente, e irão correr para o meu ombro tempos depois, sempre com novos pedidos de ajuda momentâneos. Eu? Eu nada. Sinto nada. Queixo-me de nada. Choro por nada. São crises, são fingimentos e falsidades. São nada. Eu sou nada. Tudo é nada. E agora? Para que servem as palavras? Também para nada. Porquê? Porque já ninguém dá o devido valor a quem merece. Nem eu mereço amizades. Não mereço amor. Não mereço nada. E nem que me atirem com sete pedras - esses mesmos pedregulhos -, na mão, de uma vez só: eu continuarei de pé, mesmo sem mera vontade de me levantar de novo. Sim, eu estarei lá, sempre. Mesmo que seja desiludida, mesmo que não faça nada de jeito, mesmo que ninguém se importe nem um pouco. Ela estará lá, eu não. Eu estarei do outro lado, vigiando o meu ser ocultado pela ignorância. E sim, dá para perceber que estou cada vez mais sozinha atrás deste espelho embaciado de lágrimas. Mas o que é isso? Nada, não é nada.